Destaque

Ameaças para a recuperação do comércio

  • Outro entrave para a recuperação do setor é a queda da renda dos brasileiros ocasionada por salários reduzidos e inflação em alta
  • Representantes e fabricantes analisam situação da retomada da economia

Em meio à recuperação da economia no pós-pandemia dados divulgados pelo OMC (organização mundial do comércio) e também pela Gouvêa Analytics revelam que a inflação e o desemprego devem atrasar a plena recuperação do comércio. Esse cenário também afeta o setor de som e acessórios e muitos outros setores da economia. 

Só na última semana de setembro dados do Boletim Focus do Banco Central, mostram aceleração da inflação ao longo de 14 semanas seguidas e mesmo com mais de 370 mil empregos formais gerados no mês passado, o ritmo ficou estável, além da previsão de crescimento de no máximo 5%, mantêm o cenário apreensivo para a economia do país. 

Assim, mesmo com o avanço da vacinação e o fim das restrições sanitárias alguns setores não colheram os frutos da volta ao movimento normal especialmente no comércio. Pesquisa da ALSHOP, associação de lojistas de shopping, mostra que a inflação e o encarecimento dos insumos de transporte e importações são a preocupação de 82% dos comerciantes. Dados de entidades mostram números controversos: a venda de vestuário cresceu 42% em agosto deste ano em relação a 2020. Por outro lado, a produção de veículos no país caiu 40% em relação ao ano passado por falta de peças. Dentro do nosso setor esse reflexo somado a falta de produtos e também o encarecimento dos custos e do dólar tem dificultado a recuperação das vendas.

O que dizem os profissionais do setor?

A revista AutoMOTIVO conversou com representantes, lojistas e fornecedores sobre o momento da economia. Veja algumas opiniões:

“Ninguém esperava que a partir de maio e abril a economia fosse aquecer. Para mim e para meus clientes que estavam preparados as vendas praticamente dobraram no ano passado. Em alguns casos a venda até triplicou no fim do ano passado. Já esse ano o crescimento foi mais baixo mas se manteve na média” analisa Gustavo Nobre da Nobre Representações e Consultoria.

“O aftermarket tem oscilado muito. Com o aumento dos custos, a inflação, os aumentos de combustíveis de forma descontrolada deixam a população aflita e segurando custos. Há um atraso na produção e entrega de produtos sendo que um contêiner hoje custa por volta de US$ 19 mil e isso tem impactado no nosso planejamento. A estratégia tem sido fazer alguns transportes por via aérea para cobrir as faltas de produtos mas conseguimos fazer um bom estoque” explica Rodrigo Godoi, da JR8.

“Estamos vendo reflexo de muita falta de matéria prima na China o que impacta em falta de produtos, altos preços, além da falta de contêiner e navios certamente teremos falta de material. Quem tiver caixa deve comprar. E estamos prevendo mais aumentos de preço para janeiro e fevereiro pois não teremos como fugir dessa situação”, diz Cesar, representante da Cesar Perez da CAP Representações que atua no estado de São Paulo com diversos perfis de clientes.

Retrato do setor

Pesquisa recente com profissionais do setor feita pela Revista Automotivo traz dados mais precisos:57% dos distribuidores e profissionais de venda do setor afirmam que há falta de produtos e somente 14,3% disseram que a cadeira de fornecimento é normal. Por outro lado, 47% dos profissionais afirmam que o consumidor está cauteloso para consumir por conta dos preços mais altos e renda reduzida ao longo da pandemia. 

Em São Paulo, a Woofer Sound, que tem 35 anos de experiência no segmento de som e acessórios diz que a recuperação tem sido lenta “Quando as barreiras sanitárias caíram notamos, em meados de junho e julho, um aumento repentino nas vendas mas os produtos ficaram muito caros e isso assusta o consumidor. Se eu pagasse aluguel certamente não ficaria mais de portas abertas”, diz Joathan Ramos, proprietário da loja.

Mesmo com as dificuldades o comércio segue animado com a recuperação da economia. Dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC) mostram que 94,2 mil trabalhadores devem ser contratados como temporários entre novembro e janeiro. Destes mais de 2/3 vão atuar no comércio de rua e também centros de compra como os shoppings centers pelo país. O número, no entanto, ainda não é capaz de recompor as demissões do setor ao longo da pandemia. “Temos um gap imenso no mercado de veículos e isso desequilibra muito o setor mas as empresas que são agressivas, especialmente no fim do ano, vão enfrentar esse desafio do momento de forma positiva”, diz Rodrigo Godoi.

Para o lojista os representantes recomendam: “Tenha o material básico na loja, agilize o processo de compra pois vai faltar material certamente no fim do ano e início de 2022”, alerta César Peres.

Marcos Camargo

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