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CRISE: Alta dos custos pressiona preços de acessórios importados

Quebra de demanda, alta no preço do transporte marítimo e do dólar levam a uma crise de oferta no setor

Mesmo em meio à pandemia, a recuperação das vendas no mercado de acessórios e peças automotivas como um todo surpreendeu o mercado. No entanto, dois fatores vêm preocupando empresas como a alta do dólar, hoje estabilizado em um patamar de R$ 5,30 (há um ano era R$ 4,28), e principalmente o elevado custo do transporte marítimo. A revista AutoMOTIVO traz nesta matéria especial os motivos dessa alta que impacta diretamente no preço dos produtos comercializados.

A pandemia gerou um desequilíbrio entre oferta e demanda. A partir de fevereiro de 2020, a China paralisou a produção de inúmeras fábricas de componentes. Isso gerou a primeira onda de quebra na oferta de produtos, o que só começou a se normalizar em julho. Quando isso ocorreu, o Brasil estava enfrentando o pior momento da pandemia e já havia cancelado seus pedidos. Dados divulgados pela Hapag-Lloyd mostram que a rota Brasil-China chegou a US$ 10 mil dólares por TEU (medida usada para contêineres). O encarecimento levou a dezenas de cancelamentos diários de pedidos o que reduziu a oferta de produtos esperando o preço baixar, o que não ocorreu. “Este valor alto do transporte, sem falar na dificuldade de contratar o transporte, desequilibrou toda a cadeia de produto o que se reflete na alta de preços e redução da oferta. Hoje o importador está escolhendo o produto que vai trazer e tem optado por produtos de preço mais elevado como forma de compensar o transporte”, afirma Fernando Wilton, gerente comercial da SUNS Farois.

Retomada repentina

A partir de julho, com a retomada das vendas na Europa e Estados Unidos, assim como no Brasil, fábricas de automóveis e de eletrônicos demandavam muitos componentes da China, mas oferta ainda estava reduzida. 

Outro gargalo é que os portos brasileiros reduziram equipes de trabalho por conta da pandemia o que atrasou o desembaraço dos contêineres e consequentemente levou à aumento do tempo para liberação de mercadorias. 

Segundo a Centronave, empresa de navegação de longo curso, a oferta de transporte só começou a melhorar em outubro com a inclusão de 14 navios adicionais na rota entre Xangai e Santos, por exemplo. Mas isso não foi suficiente para amenizar o problema e o frete, que já estava em US$ 7,1 mil em outubro chegava a US$ 8,1 mil na semana do Natal. Na virada do ano o preço do frete chegou a US$ 10 mil.

“Temos que considerar que após o pedido o tempo de fabricação é de 30 dias em média, depois 30 dias de viagem, e, ao chegar no Porto, pagamento e liberação levam mais 10 dias. Este processo normalmente leva 70 dias então quem teve receio de comprar durante a pandemia ficou sem produto para oferecer no mercado”, afirma Wilton. 

No caso da SUNS Farois, a demanda por produtos de iluminação cresceu muito tanto em automóveis quanto em demandas especiais como conjuntos de luzes para pick-ups e até para implementos do setor agrícola (colheitadeiras e tratores em geral). “Como a demanda do agro não parou mas sofremos uma quebra no fornecimento de produtos tivemos como consequência aumento de preços, em média 20%, e no caso de novas alterações podemos ter outras elevações no futuro”, afirma o gerente.

No caso do setor automotivo, diretamente ligado a essa questão, a falta de componentes vem atrasando a produção de carros no país, o que também se reflete em preços cada vez mais altos. Hoje componentes plásticos de acabamento, chicotes elétricos além de chips, sensores e outros produtos são importados da China. A questão levou a aumentos sucessivos de preço nas linhas de produção da Hyundai, Honda, Toyota, Fiat e Jeep.

Concentração e concorrência

No mercado, outro fenômeno causado pela pandemia foi a concentração do transporte e desembaraço em grandes grupos globais. Como só grandes empresas mantiveram seus pedidos tendo lastro financeiro, a consequência é a menor concorrência e aumento dos preços. Especialistas do mercado de transporte marítimo afirmam que a normalização só deve ocorrer dentro de dois ou três meses.

Hoje há menos 1,5% de ociosidade no transportemas alguns países ainda trabalham com portos no ritmo reduzido de operação, inclusive no Brasil. Segundo a Centronave a situação só deve se normalizar completamente ao longo de todo o ano de 2021 mas os preços do transporte marítimo deve ficar em torno de US$ 4 mil por contêiner, um patamar bem mais alto ao anterior à pandemia.

Marcos Camargo

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