Após o COVID, crise russa e novos lockdowns na China ameaçam produção e exportação de produtos para outros países
Depois do arrefecimento dos números da pandemia, que deixou de ser uma emergência sanitária, economistas esperavam uma melhora mais rápida da economia, uma recuperação rápida da produção industrial e normalização da cadeia de consumo. Mas isso até agora não aconteceu. Pior. O dólar que vinha caindo em abril graças à grande entrada de dólar de investidores que fugiram da Rússia em conflito com a Ucrânia agora subiu voltando ao patamar dos R$ 5. Isso esfriou a expectativa dos importadores que chegaram a comprar com dólar de R$ 6,63 em 07 de abril. Agora, com uma nova onda de transmissão do COVID-19 na China, importantes cidades como Pequim, Xangai e Guangzhou entraram em lockdown.
Cenário preocupante
Atualmente 200 milhões de pessoas estão em lockdown na China e as principais cidades portuárias vem sendo afetadas pelos fechamentos impostos pela ditadura chinesa. Segundo o Caixin China General Manufacturing, este é o pior fechamento desde fevereiro de 2020 com 57% da população afetada por restrições e 30% menor oferta de navios para embarque. “Essa nova onda de restrições deve impor inicialmente atrasos para exportação de contêineres que já estão acontecendo mas pode ter repercussões ainda piores. Se não tiver como escoar a produção a China vai naturalmente diminuir o ritmo das fábricas e o resultado de tudo isso certamente será inflação dos produtos em todas as cadeiras”, afirma o economista Darci Ferreira.
Leandro Alvares Barreto, da Solve Shipping explica que o cenário era de otimismo com a recuperação nos níveis de embarque até essa nova onda de coronavírus na China. Os preços que chegaram a US$ 20 mil por contêiner já haviam reduzido para US$ 15 mil. “No início do ano alguns transportadores chegaram a oferecer embarques por US$ 6 mil mas o preço voltou ao patamar anterior. Não vejo, porém, espaço para uma nova alta pois o mercado entende que esse cenário seja transitório”, explica.
Darci Ferreira reforça que a questão do dólar não é o único fator que não contribui com uma esperada redução nos preços. “Em meio ao conflito entre a Rússia e Ucrânia, produtores de commodities e de energia, temos custos mais altos para produzir eletrônicos pois muitos metais nobres usados em chips, circuitos e outros componentes começam a ficar escassos e por isso estamos falando que a inflação vem sendo pressionada no mundo inteiro. Só na Europa, a partir do conflito, o gás natural já subiu mais 24% e alguns países já começam a buscar a região do Oriente Médio. A solução é complexa”, afirma.
Transportadores admitem dificuldade
Os grandes transportadores como a MAERSK admitiram publicamente essas dificuldades mas não criticaram o cenário de lockdown na China. A Maersk admitiu que galpões logísticos estão fechados e o transporte rodoviário teve o ritmo reduzido em função das proibições do governo para que a população circule. Em nota a empresa disse que a nova onda de fechamento será pior para a cadeia de produção do que o navio que atolou no canal de Suez. Ditlev Blicher, executivo que gerencia a operação da Maersk na Ásia e Pacífico diz que os embarques estão funcionando a 40% da capacidade já há mais de um mês e a situação é preocupante para o médio prazo das operações de exportação a partir da China.
A gigante Evergreen também notifica que 50% dos embarques estão comprometidos a partir de quatro portos na China. Apesar de admitir atrasos e não se comprometer com datas de entrega, a empresa diz fazer “o possível para reduzir os atrasos impostos pelas restrições no território asiático”.
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