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Elétricos, híbridos e autônomos: Uma visão do futuro da indústria automotiva

O fato de o motorista poder ter tempo livre deve significar telas multimídia muito maiores, computadores mais potentes e capacidade de comunicação praticamente ilimitada com ocupantes de outros veículos, empresas e serviços externos e, logicamente, com os dispositivos portáteis (celulares, tablets, notebooks) dos ocupantes.

O que nos espera? Qual será o futuro da indústria automotiva e, consequentemente, do mercado de equipamentos de som e acessórios automotivos?

Nas discussões entre os principais empresários e executivos do setor no Brasil, essa visão do que nos aguarda é um assunto comum, assim como as preocupações com a alta carga de impostos, a informalidade, a concorrência desleal e a política comercial ambígua de muitos fabricantes e importadores.

Afinal, os veículos elétricos ou híbridos serão realidade para o mercado de massa nos próximos poucos anos no nosso País? E os veículos autônomos, vão entrar nas nossas vidas em breve ou serão só uma opção reservada para nossos filhos e netos?

Soluções distintas para realidades diferentes

Para responder a essas perguntas é preciso lembrar que existem ao menos duas realidades distintas: a dos países do primeiro mundo e a nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.

Soluções que podem ser adotadas a curto e médio prazo na América do Norte, na Europa Ocidental e em alguns países da Ásia ainda têm um longo caminho a percorrer na América Latina, na Ásia e no Oriente Médio, só para citar alguns exemplos.

O que está logo à frente para alguns países pode demorar décadas para se tornar realidade em outros e tem um futuro ainda mais nebuloso para alguns. Nem mesmo em países de um mesmo continente ou bloco econômico é possível dizer que existe uma mesma realidade.

O que vale para os Estados Unidos, por exemplo, pode não valer para o Canadá e, com certeza, vai valer ainda menos para o México. O mesmo raciocínio vale para a Europa, para a Ásia, para o Oriente Médio e assim por diante. Cada país tem características diferentes no que diz respeito à economia, poder aquisitivo da população, avanço tecnológico, cultura, topografia, urbanismo, disponibilidade de energia elétrica e assim por diante.

Olhando com mais cuidado, é possível perceber que até em um mesmo país a adoção de novas tecnologias não é uniforme. Um exemplo fácil disso são os avançados Estados Unidos, onde a realidade muda de estado para estado. O que vale para estados ensolarados e com população adepta de inovações tecnológicas e altamente conscientizada sobre a proteção ao meio ambiente, como a Califórnia, pode não ter a mesma importância em outros estados.

O mesmo se aplica em estados com grandes metrópoles e alta densidade populacional e outros nos quais predominam cidades médias e pequenas, nas quais o trânsito está longe de ser uma das principais prioridades.

Essas diferenças também são válidas tanto no caso dos veículos que utilizam meios de propulsão alternativos, como os híbridos e elétricos, que já aparecem de forma mais ou menos tímidas nos mais diferentes mercados mundo afora (inclusive no Brasil), quanto no dos veículos autônomos, cuja adoção ainda está em estágio inicial mesmo nos mercados mais desenvolvidos.

Propulsão alternativa

Tendo como pano de fundo a previsão de escassez de combustíveis de fontes não renováveis, derivados do petróleo, e a progressiva poluição nos grandes centros, motores de uma conscientização da necessidade de respeito ao meio ambiente que cresce a cada dia, a pesquisa e produção de veículos de propulsão elétrica ou híbrida deixou de ser possibilidade para se transformar em realidade.

Antes limitada aos laboratórios de pesquisa e aos concept cars exibidos nos Salões do Automóvel mundo afora, a propulsão elétrica foi crescendo até se transformar numa das principais apostas das principais montadoras mundo afora. A maioria delas prefere colocar suas fichas na propulsão elétrica, mas algumas optaram por um caminho paralelo, cujo principal vetor é a hidrogênio.

As principais barreiras à popularização de veículos de propulsão elétrica ou híbrida são também as suas principais deficiências, custo elevado e baixa autonomia, consequência do alto custo das baterias, que limitam o uso de veículos com esse tipo de motorização fora do ambiente urbano.

Montadoras e suas parceiras já estão trabalhando duro para eliminar ou aliviar essas deficiências, investindo em propostas como o uso de baterias à base de troca e na utilização de novas tecnologias permitirão a produção de baterias menores, mais leves e mais potentes, como já aconteceu com os telefones celulares nas últimas décadas.

Paralelamente, motores elétricos e dispositivos de recuperação de energia cinética (KERS) estão sendo continuamente aperfeiçoados, fazendo com que haja menor gasto da energia contida pelas baterias e que elas sejam recarregadas melhor, aumentando a autonomia dos veículos eletrificados.

Nos mercados mais desenvolvidos da Europa, dos Estados Unidos e da Ásia, as montadoras estão apostando para valer nos modelos de propulsão alternativa. No ano passado, a Land Rover e a Volvo anunciaram que a partir de 2021 só vão lançar modelos elétricos e híbridos.

O grupo Volkswagen (leia-se Audi, Porsche, Lamborghini e Bugatti) anunciou que até 2030 todos os seus modelos também vão ter uma versão elétrica ou híbrida. A BMW está se preparando para produzir carros elétricos em massa até 2020 e pretende ter uma linha de 25 modelos com propulsão alternativa até 2025.

Já a Toyota anunciou que pretende vender 5,5 milhões de veículos eletrificados em todo o mundo até 2030, dos quais mais de 1 milhão serão elétricos ou movidos a célula de combustível. A meta é parte de seu novo plano para difundir a utilização de automóveis puramente elétricos, híbridos ou movidos a células de combustível no período 2020-2030.

Em resumo, o uso de meios de propulsão alternativa está se tornando uma realidade cada vez mais palpável. Isso não significa que os motores tradicionais estejam automaticamente condenados à extinção, mas que as alternativas passarão a ter cada vez mais importância.

Veículos autônomos

Ter um veículo no qual o motorista seja apenas um passageiro qualificado a dirigir ainda está longe de se transformar em realidade para os consumidores do mundo todo.

Embora a ideia possa parecer encantadora para muitos, que prefeririam passar o tempo gasto entre a casa e o trabalho lendo e enviando e-mails, falando no celular à vontade sem ter de preocupar com multas, se atualizando com as notícias ou até mesmo assistindo ou vídeo, essa possibilidade ainda está restrita a campos de teste de montadoras, laboratórios de empresas e universidades ou ações promocionais para jornalistas e formadores de opinião.

Ônibus e veículos de entrega de mercadorias, porém, já parecem ser uma realidade muito mais próxima, com diversos testes práticos sendo feitos em diversos países.

No entanto, todo o trabalho de pesquisa feito até agora para tentar tornar autônomos os veículos que usamos no dia a dia resultaram em diversos avanços transformados em equipamentos que já integram os modelos mais caros de diversas montadoras, tornando-os mais seguros e práticos de dirigir.

Reflexos nos acessórios

No que tange a equipamentos de som, vídeo e outros acessórios automotivos, os veículos eletrificados não constituem ameaça ou implicam em grandes alterações. Muito embora o sistema elétrico desses veículos adote a voltagem de 48V, a maioria absoluta deles continua tendo uma bateria de 12V, com um sistema elétrico dedicado a aplicações de menor consumo como as de áudio e video, módulos de acionamento de vidros, travas, etc.

Já no caso dos veículos autônomos, o foco do desenvolvimento ainda está no complexo conjunto de radares, sensores e computadores que permitem que o veículo não necessite de um motorista.

No entanto, é bastante lógico imaginar que o fato de o motorista poder ter tempo livre deve significar telas multimídia muito maiores, computadores mais potentes e capacidade de comunicação praticamente ilimitada com ocupantes de outros veículos, empresas e serviços externos e, logicamente, com os dispositivos portáteis (celulares, tablets, notebooks) dos ocupantes. Também neste caso os sistemas elétricos de 12 V devem continuar existindo.

E o Brasil?

No Brasil, tanto os veículos elétricos e híbridos quanto os autônomos ainda têm um longo caminho a percorrer antes de efetivamente terem chance de fazerem parte do dia a dia da maioria dos brasileiros.

No caso dos veículos elétricos e híbridos, apesar da crescente oferta de modelos oferecidos por diversas montadoras e importadoras, além do preço alto atrapalhar bastante e a carga tributária ainda ser alta, faltam pontos de recarga na maior parte do País.

A maioria absoluta dos existentes está em São Paulo, mas por enquanto só existem pontos de recarga em uma estrada estadual, a rodovia dos Bandeirantes, no trecho entre Campinas e a capital paulista. A Via Dutra deve receber este ano cinco pontos de recarga, que deverão permitir que um veículo híbrido ou elétrico possa fazer o trajeto entre o Rio de Janeiro e São Paulo sem grandes problemas.

Esses obstáculos fazem que o mercado para veículos com esses tipos de propulsão seja bastante limitado. Embora as vendas tenham triplicado em relação a 2016, no ano passado só foram emplacados 3.296 veículos híbridos e elétricos no Brasil, a maioria absoluta deles Toyotas Prius, modelo que sozinho respondeu por 2.208 unidades nos 11 primeiros meses do ano.

No tocante aos veículos autônomos, a curto prazo eles ainda serão pouco mais do que ficção científica. Num país em que veículos importados dotados de equipamentos de segurança inteligentes ainda precisam ser “castrados” para poderem circular, por falta de legislação específica, homologação muito lenta ou até normas defasadas, um veículo autônomo está muito longe da realidade.


Texto: Amadeu Castanho Neto
Imagens: Divulgação

Matéria publicada originalmente na revista AutoMOTIVO, a publicação B2B do mercado brasileiro de som e acessórios automotivos

 

Felipe Negri Vicentini

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