Mercado cresce pouco mas ganha peso

Analisando o mercado automotivo, não consigo deixar de fazer um paralelo com o que acontece com o ser humano: depois de uma fase de crescimento vigoroso chega uma em que o crescimento é mínimo ou nulo e, depois, uma em que se ganha corpo.

De certo modo, é o que vem acontecendo com o mercado automotivo no Brasil. Crescemos bastante, mas já atingimos um porte respeitável e agora o crescimento tende a ser mais lento. Claro que nada impede que tenhamos outras fase “juvenis”, de crescimento acelerado. Mas, quase com certeza, em seguida o crescimento “dá uma sossegada”.

Enquanto isso, o mercado vai tomando corpo. Mais consumidores vão passando a poder comprar um carro usado, outros trocam seus usados por outros mais novos ou um zero, milhões compram seus carros novos e o tamanho da frota vai crescendo.

É nisso, na minha opinião, que devemos passar a observar. E passar a estudar como tirar proveito disso (se é que já não estamos fazendo isso). O mercado para acessórios não é e não pode ser só o dos carros zero. Os usados também contam e pelo imenso tamanho desse mercado, têm como movimentar muitas vendas de som e acessórios automotivos. Então, se você não produz, distribui ou vende produtos para usados, vale a pena passar a pensar em fazer isso.

 Razões para pensar grande

Veja só: até o final de outubro foram vendidos quase 7,8 milhões de carros de passeio e veículos comerciais leves no país. O total exato é de 7.744.263 veículos. Só em outubro foram 690.816 automóveis e 148.403 comerciais, com um crescimento médio de 4,12% sobre o mês anterior. Isso projeta um total anual superior a 9,3 milhões de veículos dessas duas categorias trocando de mãos.

E se entre os veículos leves o crescimento do volume de vendas foi de mais de 4% no mês e 4,97% em relação a 2012, entre os pesados é quase o dobro, com uma média de 7,44% a mais do que em setembro, considerando caminhões e ônibus.

Em relação ao resultado do ano passado, o crescimento foi ainda melhor, cravando 9,24%.

Entre os veículos zero quilometro, os números também não deixam reclamar. Até o final da primeira semana de novembro, já foram emplacados quase 3.1 milhões de automóveis e comerciais leves. Com as campanhas feitas pelas montadoras e uma possível corrida às revendas para fazer frente ao prometido aumento do IPI, mais o resultado da injeção do pagamento de 13º salário na economia, até o final do ano existem condições para empatar com o resultado do ano passado e até superá-lo um pouco.

Além disso, é bem provável que a venda de caminhões e ônibus novos supere em cerca de 25 mil o total alcançado no ano passado. Pode parecer pouco, mas não é. São mais de três milhões e meio de veículos leves e quase 200 mil veículos pesados novos para equipar, um número respeitável na maioria absoluta do resto do mundo. Não é à toa que somos o quarto maior mercado automotivo mundial.

Ok, eu sei que brasileiro só fica contente de verdade quando o seu time ganha de goleada, mas o que realmente importa é não perder o jogo. Pense nisso: a nossa frota supera os 50 milhões de veículos, 3,7 milhões de novos veículos leves e pesados são emplacados por ano e para cada um deles, quase 3 veículos usados mudam de proprietário (2,9 para ser mais exato).

Nos próximos anos, o mercado vai evoluir bastante, com o início de funcionamento de diversas novas fábricas e um volume enorme de dinheiro sendo investido em ampliação e modernização das já existentes.

Pick-up S10, 3ª colocada no ranking dos 10 usados mais vendidos em outubro (comerciais leves)

A Mitsubishi e a Toyota já anunciaram novas fábricas de motores e a Hyundai deve bater logo o martelo para a construção de uma para poder atender com mais tranquilidade a demanda pelos seus modelos.

Diversas empresas que hoje não produzem automóveis no país vão passar a ter fábricas brasileiras, como as alemãs Audi, Mercedes, BMW e Mercedes-Benz e as chinesas JAC e Chery.

Outras, como Nissan, Honda e Fiat, já produzem seus carros aqui mas apostaram na construção de novas fábricas.

O mercado de caminhões também está agitado. Este ano as fábricas da DAF e da International começaram a funcionar, novas marcas chinesas prometem fábricas para os próximos anos e a Mercedes-Benz e a MAN (Volkswagen) anunciaram grandes investimentos.

Até o fechamento desta edição, em meados de novembro, já tinham sido anunciados investimentos de mais de 73 bilhões de reais para o próximos três anos e é muito provável que até o final do ano esse volume ainda engorde. A Land Rover, a Kia e a Geely (não necessariamente nessa ordem) devem ser as próximas na fila dos anúncios de investimento.

Todo esse investimento pode ser traduzido em novos modelos nas ruas e muito dinheiro gasto para seduzir os consumidores a trocarem de carro ou de marca. As importadoras, logicamente, não vão ficar quietas e também vão anunciar,fazer promoções e oferecer facilidades de pagamento. Em conseqüência, mais consumidores vão ser convencidos a abrir a carteira para botar um carro novo na garagem. E como vimos mais acima, para cada zero vendido, quase três outros mudam de mão no mercado secundário.

Olhando os dois lados do mercado

Podemos concordar que as perspectivas por esse lado parecem bastante promissoras, certo? Vamos agora dar uma examinada no varejo: quantas novas lojas de som e acessório foram abertas na sua cidade nos últimos anos? Provavelmente, a resposta vai ser a mesma em qualquer parte do país: poucas.

Acabamos de ver que uma nova leva de consumidores está chegando ao mercado vinda das antigas classes C e D e que um número quase igual de brasileiros está agora na classe média. São consumidores não só de carros usados, mas também de novos, principalmente dos econômicos e compactos. Vimos ainda que montadoras e importadores vão gastar muito dinheiro para convencer os consumidores a trocar de carro.

Ora, se há mais carros e consumidores e o número de lojas não aumentou na mesma proporção, significa que a sua loja tem grande probabilidade de receber mais negócios. Portanto, há muitos motivos para ser otimista!

O ranking até agora

As mudanças no ranking dos mais vendidos continua. Modelos mais antigos estão cedendo lugar a outros mais modernos, que rapidamente estão indo para a lista dos dez mais vendidos. É o caso de carros como o Onix e do Cobalt, da General Motors; do HB20, da Hyundai e do Novo Fiesta, da Ford. São modelos que foram muito bem aceitos pelos consumidores.

Outros, como o Toyota Etios, não desencantaram. Enquanto o Onix e o Prisma somam 18.592 unidades vendidas em outubro e as versões hatch e sedan do HB20 venderam 14.857 unidades no mesmo período, o modelos hatch e sedan do Etios só somaram 4.252 unidades emplacadas.

Para que se tenha uma idéia do tamanho da distância, esse total representa menos do que as vendas só do HB20 Sedan. Aliás, é interessante notar que entre os sedans compactos, o Prisma vendeu 50% a mais do que o HB 20 S.

Entre os veículos da categoria batizada de “comerciais leves“, que mistura SUVs e pick-ups a verdadeiros comerciais como a Fiorino, a Ducato e a Renault Master, a Strada lidera com folga e a Saveiro é a segunda mais vendida.

A Duster conseguiu encostar na EcoSport e a S10 vende praticamente o dobro da Ranger, que ainda não caiu no gosto dos compradores e emplaca menos que as unidades da Toyota Hilux, que é importada.

Nessa categoria também é digno de registro o desempenho da Range Rover Evoque, que apesar do preço salgado, conseguiu vender quase 700 unidades no mês de outubro.

fabio codellos

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