Se há alguma coisa sobre a qual podemos ter certeza ao observar o mercado brasileiro de som e acessórios é de que ele está mudando. Ele está se tornando mais complexo e, até por isso, mais profissional. Exigindo mais qualificação, mais investimento em treinamento, mais tempo para acompanhar e entender as evoluções dos veículos e o comportamento dos consumidores.
Nos últimos anos, o número de marcas e modelos disponíveis no mercado aumentou tremendamente e as montadoras estão colocando no mercado carros cada vez mais equipados. Graças ao fácil acesso à internet e ao contato com veículos mais sofisticados e equipados, o consumidor está se tornando cada vez mais bem informado e exigente, com novas preferências e hábitos de compra e uso de equipamentos de som e acessórios.
À primeira vista, pode parecer que o potencial do mercado está diminuindo e está se tornando cada vez mais difícil de continuar atuando nele, mas um exame mais atento mostra que a sabedoria dos chineses ao usarem um mesmo ideograma para representar problema e oportunidade continua valendo.
Para quem pensa em fugir do cenário cada vez mais complexo do mercado de acessórios para automóveis, um exame mais atento mostra que ainda existem segmentos que ainda são pouco explorados e que podem oferecer muitas possibilidades de sucesso.
São segmentos que até agora têm recebido pouca atenção do mercado, como o de caminhões e o de ônibus, que se mostram em franco crescimento, com números impressionantes e diversas oportunidades para serem exploradas. Outros, como o de motocicletas e de barcos, também merecem ser levados em conta.
Para os pessimistas, céticos e descrentes de plantão, não custa lembrar o que aconteceu com o segmento de pick-ups e SUVs, que anos atrás não passava de um nicho de tamanho muito reduzido, praticamente ignorado pela maioria, e hoje é um mercado bastante significativo para um grande número de fornecedores, distribuidores e varejistas.
Como comentou o consultor da Roland Berger, Stephan Keese, em sua apresentação durante a edição de 2013 do ENAN, o perfil dos motoristas de caminhões está mudando. A faixa etária está diminuindo e a maioria desses motoristas, que passa a maior parte de seus dias dentro do caminhão, deseja ter nos seus veículos o mesmo nível de conforto e praticidade que encontra nos automóveis.
Ao mesmo tempo, embora eles se tornem cada dia mais tecnologicamente sofisticados, a maioria dos caminhões ainda não tem equipamentos básicos como acionadores de vidros elétricos, alarmes, travas, bloqueadores, rastreadores, etc. Nem outros como câmeras de ré e sensores de estacionamento e proximidade.
Equipamentos específicos para caminhões, como climatizadores e geladeiras, estão na lista dos mais desejáveis e a tendência de personalização, com o uso de faixas e adesivos, se faz cada vez mais presente. Tudo isso pode ser traduzido como muitas oportunidades de negócios.
Mercado volta a acelerar
Depois de ter passado alguns anos “patinando”, o mercado de caminhões finalmente se recuperou este ano e passou a exibir grande força, como mostram os números divulgados pela Anfavea, entidade que representa as fábricas, e pela Fenabrave, que representa as redes de concessionárias autorizadas.
Segundo a Anfavea, o licenciamento de caminhões já cresceu 10,7% este ano em relação ao ano passado, cravando 140.129 unidades vendidas até o final do mês de novembro. A entidade aposta ainda na manutenção dos bons resultados graças à excelente safra agrícola, às crescentes restrições para a circulação de veículos pesados nos grandes centros urbanos e à renovação da frota.
A frota nacional de veículos de carga ultrapassou no último semestre de 2013 a marca de três milhões unidades, mas uma parte significativa dela já é considerada ultrapassada, o que significa necessidade de substituição a curto ou médio prazo e reflexos positivos na demanda. Por isso, vários governos estaduais estão apostando em projetos para diminuir a idade média da frota de caminhões, gerando reflexos negativos na poluição, no trânsito e nos custos de fretes, entre outros.
Esses programas oferecem vantagens para proprietários que sucatearem caminhões mais antigos. O estado de São Paulo instituiu no ano passado o Renova SP – Programa de Incentivo à Renovação da Frota de Caminhões, o do Rio de Janeiro fez o mesmo este ano e o governo de Minas Gerais já submeteu o seu à aprovação da Assembléia Legislativa do estado.
A própria Anfavea, em nome de dez entidades, entregou recentemente ao Governo Federal uma proposta de um programa nacional de renovação da frota de caminhões, começando com veículos acima de 30 anos de uso, que prevê a substituição de cerca de 300 mil caminhões num prazo de dez anos. Só no estado de São Paulo o Detran calcula que cerca de 30% dos 610 mil caminhões registrados têm mais de 30 anos de uso.
As montadoras se mostram confiantes na ampliação do mercado e estão investindo na construção de novas fábricas e na atualização e ampliação das já existentes. Só a Mercedes-Benz vai investir cerca de R$ 1 bilhão, o maior investimento do Grupo Daimler em veículos comerciais em todo o mundo. Além disso, várias novas marcas estão instalando fábricas no país.
Mercado de ônibus
As perspectivas para este ano são positivas, em função da Copa do Mundo, da licitação da maioria absoluta das linhas de ônibus interestaduais e dos crescentes investimentos no programa Caminho da Escola de compra de ônibus escolares, pelo Governo Federal.
Embora haja oportunidade para instalação de acessórios de segurança, como alarmes, travas, bloqueadores, rastreadores e câmeras de ré, o investimento tende a ser focado principalmente em sistemas de audio e vídeo, só que muitas vezes em escala muito superior à verificada nos outros segmentos, tanto em quantidade de equipamentos quanto em valor.
A área de segurança apresenta ainda uma grande oportunidade: a instalação de monitores de uso de cintos de segurança. Segundo a legislação de trânsito, o uso do equipamento pelos passageiros é obrigatório e o motorista pode ser multado caso os passageiros não estejam utilizando o cinto.
Isso é considerado uma falta grave e a fiscalização tem crescido em todo o país, fazendo que muitos motoristas de ônibus e vans insistam com os passageiros sobre o uso do cinto. Até o momento, o produto, que já existe no exterior, ainda não é oferecido no Brasil.
Atenta a essa oportunidade a Orbe do Brasil desenvolveu uma linha de produtos específica para ônibus, que batizou de Orbe Bus. O leque de produtos é amplo e vai desde rádios dual zone, que permitem que o motorista ouça uma programação diferente da dos passageiros, DVD players, roteador 3G Wi-Fi, amplificador de sinal de vídeo e monitores de vídeo para teto fixos ou rebatíveis de diversos tamanhos, além de um inédito audiofone para o uso dos passageiros. Todos os produtos são 24V, desenvolvidos especialmente para ônibus.
Aproveitando as oportunidades
Atentos à oportunidade, muitos fabricantes de equipamentos de som e acessórios para automóveis, pick-ups e SUVs já têm produtos específicos para caminhões e ônibus, que têm características muito específicas, como por exemplo o uso de sistema elétrico de 24V.
No entanto, o número total de produtos para esses segmentos ainda pode ser considerado pequeno, principalmente quando comparado com a grande variedade disponível para os veículos leves. Produtos específicos, como climatizadores e geladeiras, só são vendidos em lojas especializadas.
Uma análise de mercado mostra um número limitado de varejistas focados em equipamentos de som, vídeo e acessórios para caminhões e ônibus, mesmo quando se considera mercados como São Paulo, entroncamento de algumas das principais estradas do país e maior mercado de ônibus e caminhões do Brasil. O mesmo ocorre no caso das distribuidoras.
Em resumo: os segmentos de caminhões e ônibus apresentam muitas oportunidades para serem aproveitadas por varejistas, distribuidores e fabricantes. Quem se habilita?
Por: Amadeu Castanho Neto
Fotos: Divulgação
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