Quem foi ao Salão do Automóvel este ano não viu só muitos lançamentos, grande número de novidades, carros dotados de tecnologia de ponta e sonhos de consumo. Também pôde ter a oportunidade de perceber que a indústria automobilística mudou – e para melhor, parecendo ter aprendido que o consumidor está mais exigente, melhor informado e muito mais cuidadoso na hora de abrir a carteira.
Foi possível perceber uma indústria mais madura, mudada em muitos pontos, definitivamente mais agressiva. Os muitos lançamentos, como o Renault Captur, Hyundai Creta e o Honda W-RV e novidades como o Jeep Compass (não por coincidência todos SUVs) e a nova linha de motores da Renault com certeza vão se refletir positivamente nas vendas.
Embora muito dos veículos nacionais expostos exibam reflexos de avanços exigidos pelo Inovar Auto em contrapartida a impostos mais camaradas e a barreiras à importação, assim como também uma predisposição das montadoras para continuarem investindo, ainda falta muito para se chegar ao ideal.
Lições que ainda precisam ser aprendidas
Parece que algumas lições ainda não foram bem absorvidas pelos altos executivos das montadoras, seja aqui ou nas respectivas matrizes. Uma prova disso é a abundância de modelos estilística e tecnologicamente defasados ou com acabamento de terceiro mundo. Outra, muito mais importante, são os preços cada vez mais distantes da realidade financeira dos compradores.
Oferecer veículos compactos – nossa categoria de entrada – com preços que começam na faixa entre R$40 a 50 mil é praticamente forçar o consumidor a escolher entre partir para um veículo de categoria superior ou então recorrer ao mercado de seminovos e usados. A isso se soma a prática de continuar oferecendo os velhos “pacotes de acessórios”, criados para estimular a compra de versões mais caras.
Essa política semi-suicida praticada pelas montadoras é positiva para o mercado de som e acessórios automotivos de diversas maneiras. Por um lado, a publicidade intensa divulga para o público uma série de equipamentos que não estão disponíveis nas versões mais em conta de cada modelo.
Isso não só serve para divulgar equipamentos como retrovisores rebatíveis, câmeras de ré, assistentes de estacionamento e outros, como também acaba estimulando o consumidor que só consegue comprar um veículo sem esses acessórios a passar numa loja especializada e equipar o veículo gastando menos e sem estar atrelado a pacotes obrigatórios.
Por outro lado, reforça a migração de eventuais compradores de carros novos para as lojas especializadas na revenda de veículos seminovos e usados, que custam muito menos, ainda contam com bom tempo de garantia e permitem atender o desejo de trocar de carro sem fazer um rombo no orçamento.
Os apertos e inseguranças gerados pelos problemas na Economia ensinaram os consumidores que isso é possível, fazendo que a venda de veículos seminovos e usados venha goleando por meses seguidos a dos zero-quilômetros. Em média, a cada modelo 0 km que é vendido numa concessionária autorizada, as lojas especializadas encontram compradores para cinco seminovos ou usados.
E, por mais que as coisas tenham mudado na cabeça dos consumidores, comprar um usado não massageia o ego ou manda a mensagem ideal para os vizinhos e colegas. Então é preciso compensar isso equipando o “carro usado novo” com acessórios que o diferenciem, o ajustem à preferência do novo proprietário e coloquem em segundo plano o fato dele não ser um modelo cheirando a novo.
Mudanças a serem levadas em conta
Quem esteve no Salão também teve a oportunidade de observar algo tão importante quanto as atrações levadas pelas montadoras e importadoras: um público que preferiu focar a atenção no que havia de melhor na mostra, deixando em segundo plano veículos que poderiam fazer parte do seu dia-a-dia.
Não que tenham faltado modelos novos, concepts e outras atrações, como carros de Fórmula-1, por exemplo. Mas foi nos modelos importados, recheados de tecnologia e equipamentos avançados, que os consumidores prestaram mais atenção.
Fui vários dias ao Salão e observei isso de perto. Embora a amostra fuja um pouco do padrão, pois quem vai ao Salão tende a ser mais apaixonado por carros que o brasileiro médio, ficou patente para mim que o consumidor continua aspirando a ter um carro melhor, mais equipado, diferente da média. E que ele está cada vez mais bem informado.
Fora isso, como já comentei no começo deste texto, milhões de brasileiros parecem ter aprendido com a crise que podem muito bem dirigir um veículo seminovo em vez de um zerinho e os acessórios se mostram como a solução ideal para personalizar a nova aquisição. Mais ou menos como se eles pensassem “usado sim, mas igualzinho ao do vizinho, não”.
Da mesma forma que eu percebi isso, com certeza as montadoras também já tinham percebido e estavam preparadas. Em praticamente todos os stands havia pesquisadores equipados com tablets abordando os visitantes para procurar entendê-los melhor.
Em alguns casos, o foco era mais fechado, como no dos pesquisadores que avaliavam a receptividade do público a modelos como a pick-up Hyundai Creta STC Concept e o Peugeot 3008. No entanto, de maneira geral, o que pesquisadores, engenheiros e executivos queriam mesmo é observar o comportamento dos consumidores para tentar entender mais claramente os seus desejos e aspirações.
O novo consumidor
As mudanças no comportamento do consumidor chamam tanto a atenção das montadoras que esta edição do Salão mereceu um evento paralelo, o Fórum Salão Internacional do Automóvel 2016, no qual o assunto mais discutido foi justamente esse.
Nas apresentações e debates durante esse Fórum, ficou claro que as mudanças que vão acontecer nos próximos cinco anos em relação ao comportamento do público consumidor serão maiores do que as ocorridas nos últimos 50.
Um dos palestrantes, Valdner Papa, diretor de Relações com o Mercado e Divisão Educacional da Fenabrave, resumiu as consequências disso numa frase concisa: “O nosso negócio vai mudar por completo”.
“O cliente é o foco”, complementou. Segundo ele, o novo cliente tem hábitos que precisam ser conhecidos e interpretados: “temos que conhecer o perfil comportamental de cada cliente”. Em pesquisas qualitativas estudadas pela Fenabrave, os resultados indicam que 95% das compras de carros são feitas de maneira emocional.
Além disso, hoje a chamada Geração Y (ou Geração Milênio), formada por consumidores nascidos da década de 80 para a frente e que cresceram em um período de grandes avanços tecnológicos, é cada vez mais representativa e importante dentro do total de consumidores.
“Eles estão sempre conectados virtualmente em várias frentes e a todo momento; possuem muito mais informações que os consumidores das gerações anteriores; pesquisam muito antes de comprar qualquer coisa; têm ótima memória de curto prazo; gostam de estímulos dinâmicos e estão acostumados a exercer várias tarefas ao mesmo tempo em seus equipamentos digitais”, explicou o consultor Sérgio Filho, da Nielsen Brasil.
Segundo o consultor, hoje a Geração Milênio já soma pouco mais de 47 milhões de pessoas no Brasil, o que é quase o equivalente ao total da população de um país como a Espanha.
Isso certamente vai orientar as estratégias das montadoras no futuro próximo, mas este Salão do Automóvel já mostrou mudanças importantes que com certeza vão se refletir positivamente nas vendas de carros novos.
Quase no final do período de vigência do primeiro Inovar-Auto, já foi possível observar no Salão novidades em tecnologia embarcada, nos processos de produção e na motorização, com diversos motores de três cilindros e até modelos de baixa cilindrada dotados de turbocompressores. Na próxima edição, mais avanços deverão ser introduzidos.
Só a Renault lançou dois novos motores, focados em bom desempenho, baixa emissão de poluentes e melhor consumo: um 1.0 de três cilindros e um 1.6 de quatro, que devem ajudar a melhorar as vendas do Sandero e do Logan. Na linha de produtos foram adicionados três de uma só vez: os SUVs Captur e Koleos e o pequenino Kwid. A Fiat e a Nissan também apostam em novos motores.
Oportunidades para acessórios
Outro participante do Fórum Salão Internacional do Automóvel 2016, Marcus Vinicius Aguiar, que é vice-presidente da Anfavea, adiantou equipamentos que deverão estar disponíveis nos veículos nacionais nos próximos anos.
Segundo ele, são produtos nos quais a tecnologia é utilizada para evitar erros humanos, como no caso de sistemas anti-fadiga, retrovisores que avisam da existência de outro veículo no ponto cego e sistemas de alerta no caso de mudanças involuntárias e bruscas de faixa.
Enquanto isso não acontece, produtos com essas funções poderão ser desenvolvidos e oferecidos pelos fornecedores brasileiros de acessórios automotivos.
Texto: Amadeu Castanho Neto
Imagens: Divulgação
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