É interessante enxergar sempre determinado aspecto do mercado com uma perspectiva mais ampla, a partir de um background maior e uma ótica que não a meramente nacional. Por isso, ao analisarmos a história de desenvolvimento do varejo de som e acessórios, veremos que este elo da cadeia – com tradição e presença consolidada nos quatro cantos de nosso País – cresceu de forma independente como em nenhum país do mundo, muitas vezes à margem de grandes redes de concessionárias de marcas e independentemente dos varejistas de autopeças ou reparadores. Ou seja: nem OEM, muito menos Aftermarket.
Em uma segunda análise, seu perfil é de empresários do comércio movidos unicamente por um sentimento: a paixão por carros, som e acessórios – e a visão que lhes permitiu transformar este sentimento em negócio. Por estarem muito próximos do consumidor final, confundem-se com este em seus desejos, entendem seus motivos, suas preferências e formam com ele um bloco muito consistente no papel de formadores de opinião. Portanto, que ninguém se engane: este varejista é, em realidade última, um consumidor final – o primeiro a atestar a qualidade de um produto recém-lançado e a exigir de si mesmo – bem como de de seus ajudantes – a excelência nos serviços de instalação prestados.
As entrevistas
A partir destas premissas, selecionamos lojistas em vários estados de diferentes regiões do País, com o propósito de finalizar uma grande consulta de mercado por amostragem que pode balizar todo o segmento para o futuro, a curto e médio prazos. Uma consulta que começou lá atrás – no fabricante – e que termina aqui, no varejista. Três perguntas foram feitas aos entrevistados: 1. Você acha que a redução na venda de carros novos deve alterar a lucratividade do varejo de som e acessórios?; 2. Quais as particularidades do varejo, neste momento?; e 3. O que você espera do mercado para o final de ano? Como se verá, as resposta revelam realidades bastante distintas.
Em São Paulo, as lojas StopCar e Sandrecar (esta com seis lojas entre a capital e o ABC) representaram um vasto e pujante comércio, responsável por mais da metade do volume de negócios de todo o nacional. Na opinião dos lojistas, a redução na venda de carros zero contribui na medida exata do tamanho de sua clientela com perfil popular, mas eles informam que o lojista paulista já se acostumou com os altos e baixos do mercado, encontrando solução na diversificação da clientela e no investimento em um público mais exclusivo, mais exigente e de maior poder aquisitivo, que quer qualidade na instalação e não se importa às vezes de pagar um pouco a mais por um produto reconhecidamente melhor. Ainda na visão dos lojistas, para o final-de-ano espera-se um aumento interessante no volume de negócios da ordem de 20%, mesmo com um cenário de crise mundial querendo se insinuar na economia real brasileira.
No Rio de janeiro, a rede de lojas Tecson, há 15 anos no mercado e com cinco lojas espalhadas pela capital fluminense mostra uma realidade de mercado distinta da paulista: com uma carteira com predominância de clientes com um perfil popular e compradores de carro zero km, a rede de instalação espera uma queda significativa, em caso de agravamento da crise e corte na vendas de carros novos. Em setembro/outubro, a redução de faturamento já chega a 20%. Acrescente-se ainda a este número uma característica do comprador de carro zero km – que é a de primar pela originalidade e a pouca ostentação no veículo (em função do traço de alta criminalidade e violência da sociedade de lá), com menor volume de compras médias por cliente. Dessa forma, a expectativa de um cenário de 2008 que repita os números do final-de-ano de 2007 não é vista com maus olhos pelo varejo fluminense.
Em Santa Catarina, a Galvane Peças e Acessórios (com lojas em Orleans e Braço do Norte) já tem um perfil de público voltado para o carro usado, até porque o negócio da empresa também foca autopeças. Por isso, os negócios estão “descolados” dos resultados da venda de veículos novos, o que projeta um cenário de crescimento ou desempenho igual ao de 2007 para o final-de-ano de 2008.
No Nordeste, a Áudio Shopping também é uma empresa (com lojas em Recife, Maceió e Arapiraca) a queda de 15% na lucratividade não se dá à vinculação das vendas de carros novos, mas á perda na margem de lucro referente à alta do dólar, que encarece os preços dos produtos importados (uma fatia respeitável dentro do mercado regional) e que – sob pena de encolher mais o movimento – não pode ser diretamente repassado para o preço final, sob pena de perder-se uma quantidade respeitável de clientes. Neste sentido, tanto os lojistas como os distribuidores da região decidiram em conjunto pela diluição da perda com o aumento do dólar, evitando assim o repasse para o consumidor. Porque a máxima “aumentar na recessão é aprofundar o fundo do poço” está criando ares de verdade inquestionável.
Por fim, no Norte, a Paulo Som Acessórios (com 16 anos de mercado e sediada em Manaus) espera um crescimento que gire em torno de 20% para o final-de-ano, independentemente do panorama econômico da crise.
Veja alguns depoimentos:
“Nós acreditamos em crescimento. Vamos esperar.”
Paulo Ângelo,
Paulo Som Acess. (AM)
“Para nós, aqui no RJ, o mercado teve uma retração já neste mês de 20%.”
Marcelo Araújo, Tecson (RJ)
“Eu espero (o fim de ano) igual ou melhor que 2007.”
Iraê Galvane Galvene Peças e Acess. (SC)
“O final de ano sempre vê um crescimento (de vendas), então a gente espera um aumento interessante.”
Luciano Maziero, Sandrecar (SP)
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