Umas das grandes tradições do mundo dos automóveis é a dos “carrozzieri”, empresas especializadas na criação de carrocerias especiais e modelos customizados.
Essa tradição nasceu no início da indústria automobilística, quando os consumidores mais ricos, acostumados a encomendar carruagens construídas sob medida, passaram a comprar das fábricas só a parte mecânica, deixando a carroceria e acabamento interno por conta de empresas especializadas.
Mesmo depois de Henry Ford ter popularizado a produção em série, alguns fabricantes optaram por focar só no fornecimento da parte mecânica ou fizeram isso com determinados modelos. Foi o caso, por exemplo, da Rolls-Royce até os anos 40 e de outras marcas de renome, como a americana Duesemberg ou a francesa Delahaye, entre outras.
Mais recentemente, a tradição dos “carrozzieri” continuou viva principalmente na Itália, onde nomes como Pininfarina, Bertone, Zagato, Castagna, Ghia e Italdesign-Giugiaro mantiveram o trabalho personalizado e as técnicas artesanais, com alguns deles se tornando famosos estúdios de estilo.
Um desses nomes é a Touring Superleggera, nascida em 1926 e conhecida pelos seu designs de proporções perfeitas e linhas puras. Sua marca está em carros icônicos, como o primeiro modelo da Lamborghini, a 350-400GT, a Ferrari 166 Touring Barchetta, a Maserati 3500 e os Aston Martin DB4, DB5 e DB6.
Outra tradição são os “concursos de elegância”, sofisticados eventos que reúnem veículos clássicos e novos, com foco em estilo, equilíbrio de linhas e, no caso dos clássicos, qualidade da restauração.
Alguns são mundialmente famosos, como o Pebble Beach Concours d’Elegance, o Louis Vuitton Classic e o Concorso d’Eleganza Villa d’Este, realizado anualmente em um luxuoso hotel às margens do lago Como, no norte da Itália.
No ano passado, a Touring Superleggera ganhou nesse último o Prêmio de Design com uma reinterpretação da mítica Alfa C52 Disco Volante, que mereceu uma edição limitada de só oito unidades.
Um clássico moderno
Este ano, a BMW encomendou à empresa um projeto especial para o evento em Villa d’Este, baseado no MINI 2014. Desafio aceito, o resultado foi o MINI Superleggera Vision, um conversível de dois lugares com linhas extremamente clássicas e elegantes.
Para contrastar com as linhas da carroceria, inspiradas nos clássicos roadsters ingleses, de capô alongado, distância entre eixos longa e compartimento de passageiros recuado, a propulsão desse modelo único é elétrica, detalhe que se deduz ao perceber que a “grade do radiador” não permite a passagem de ar.
A modernidade ainda aparece aqui e ali, em pequenos detalhes em fibra de carbono, no parabrisas em peça única sem moldura e no monitor multimídia sensível ao toque instalado no centro do painel, onde também fica uma bem sacada câmera de vídeo, embutida especialmente para capturar os bons momentos dos ocupantes.
Fora isso, tudo remete a um roadster inglês clássico. É o caso, por exemplo, da “barbatana” atrás do compartimento de passageiros, dos apoios de cabeça estofados e os santo-antonios revestidos em couro em tom cru. Ou das lanternas traseiras inspiradas em detalhes da bandeira britânica e nas portas com estrutura tubular aparente.
Fiel à tradição artesanal dos carrozzieri, a Touring Superleggera moldou à mão as chapas de alumínio da carroceria, lhe dando um acabamento que seria impossível de obter com chapas estampadas. O alumínio, desta vez sem pintura, também está presente no painel de instrumentos, cuidadosamente produzido com uma única chapa.
O sucesso do MINI Superleggera Vision tem sido tamanho que a empresa não exclui a idéia de que um dia uma versão derivada dele venha a entrar em produção, ainda que terceirizada. É a história se repetindo, quase cem anos depois.
Texto: Amadeu Castanho Neto
Fotos: Divulgação