Depois do acidente com o piloto francês Jules Bianchi no GP do Japão deste ano, em que ele sofreu gravíssimas lesões ao passar com o monoposto da equipe Marussia por baixo de um guindaste, uma das propostas que foram cogitadas para aumentar a segurança dos pilotos era a de incluir capotas nas máquinas da categoria.
A proposta não prosperou, mas qual seria o resultado se alguém criasse uma supermáquina de Fórmula 1 com dois lugares e capota, mas com todos os requisitos necessários de conforto e segurança para poder ser usada nas ruas no dia-a-dia?
Talvez a resposta mais aproximada tenha sido dada pela equipe de design da Toyota com o seu superesportivo FT-1, uma das grandes atrações no stand da empresa no Salão do Automóvel de São Paulo.
Lançado em janeiro deste ano durante o North American International Auto Show, mais conhecido por nós como o Salão de Chicago, e desde então exibido com destaque nos principais Salões do mundo, o FT-1 representa a visão da Toyota para um futuro não muito distante, porém, baseado em parâmetros bem realistas e atuais.
Mais do que isso, este concept parece cada vez mais próximo de um modelo de produção em série, a ponto da montadora já ter até adiantado seu possível preço de tabela, algo em torno de 60 mil dólares.
A sigla FT já parece dar uma indicação segura dos planos da montadora, pois a explicação oficial é que ela significa Future Toyota ou “futuro Toyota”. Já o número um, que completa a sigla, dispensa explicações: é um de “primeirão” mesmo.
Considerando que no mercado norte-americano um Porsche 911 sai por volta de 85 mil dólares, um Nissan GT-R por 96 mil e um Corvette Stingray por volta de 53 mil, esse possível preço do FT-1 seria bastante competitivo.
Desde que tirou de linha o icônico Supra, em 2002, a Toyota não fabrica um carro de perfil legitimamente esportivo com a sua marca, embora não lhe faltem recursos nem tecnologia para isso, como atestam as suas inúmeras conquistas nas pistas.
Uma evidência de que a Toyota não “perdeu a mão” são os bons modelos de proposta esportiva que vem desenvolvendo sob a sua bandeira de luxo, a Lexus, como o LFA, que teve todas as 500 unidades produzidas vendidas ou o RC-F, com motor de V8 de 5 litros e 467 cavalos e que tem preço de tabela a partir de 62,4 mil dólares.
Um pedido com uma resposta à altura
O FT-1 começou a ser desenvolvido como resposta a um pedido feito por Akio Toyoda, presidente da Toyota e neto do seu fundador, a seus principais executivos. Ele pediu especificamente um carro de design revolucionário, que fizesse bater mais forte o coração de quem o visse e que não traísse a tradição de alta tecnologia e desempenho construída pela empresa. E o que poderia fazer o coração de um apaixonado por automobilismo bater mais forte do que um bólido da Fórmula 1?
Desde que assumiu o comando da montadora, Akio Toyoda vem agindo para incorporar à sua linha produtos que inspirem energia, paixão e waku-doki, um termo que pode ser traduzido como excitação que faça o coração bater mais forte.
Essa inspiração deve resultar em carros que se conectem melhor e mais profundamente com os consumidores da marca, gerando uma experiência de uso mais satisfatória, que complemente a tradição da empresa em fornecer produtos de qualidade e altamente confiáveis.
A responsabilidade do desenvolvimento do concept foi confiada à Calty Design Research, divisão da Toyota especializada em design fundada há 40 anos. Baseada na Califórnia, berço das novas tendências, tem como principal missão criar produtos conectados às preferências dos consumidores do importante mercado americano.
Cara-a-cara com o FT-1 ou mesmo conhecendo-o por fotos e vídeos, é difícil escolher um ângulo melhor, pois o carro agrada em cheio. Prova de que a Calty acertou em cheio no design.
Desenvolvido a partir do conceito de Function Sculpting, o concept teve cada detalhe pensado para ter uma função real, como por exemplo aumentar a pressão aerodinâmica, incrementar a refrigeração de motor e freios ou reduzir o coeficiente de arrasto.
Talvez o ponto de destaque do FT-1 seja a frente extremante agressiva, que mistura um inédito bico que remete aos bólidos da Fórmula 1 com enormes tomadas de ar na parte inferior, que emula o aspecto dos spoilers frontais dos monopostos, graças à sobreposição de uma peça em tom grafite.
A traseira também chama a atenção pelo arrojo do design. As lanternas, com perfil triangular afilado e uma profundidade inédita, saltam para fora do carro como se fossem um aerofólio transparente. As enormes saídas de escapamento embutidas na carroceria dão um visual marcante ao carro.
Como no caso da dianteira, uma peça em tom grafite sobreposta à parte inferior da carroceria lembra os spoilers traseiros dos Fórmula 1. O detalhe trapezoidal na sua parte central também remete à categoria, enquanto que as grandes saídas de ar localizadas nas duas extremidades, bem atrás das caixas das rodas traseiras, lembram as máquinas do Campeonato Mundial de Endurance. Finalmente, o spoiler retrátil arremata o visual da máquina.
A configuração do FT-1, alojando o motor debaixo de com um longo capô na frente do carro e optando pela tração traseira, fez com que o cockpit fosse deslocado para trás para melhorar a distribuição de peso, adotando as proporções clássicas dos melhores esportivos.
Por dentro, o amplo para-brisa envolvente, com colunas bem deslocadas para trás para garantir uma visão desimpedida do percurso à frente mesmo nas curvas mais apertadas e o volante inspirado nos da Fórmula 1 não traem a herança das pistas de competição, embora o grande painel HUD acima do volante remeta mais a um jato de combate.
Finalmente, não contente em desenvolver um concept físico, a Toyota foi além e também desenvolveu uma versão virtual especialmente para comemorar os 15 anos do bem sucedido game Gran Turismo na opção Vision Gran Turismo da sexta versão do game para consoles Playstation.
Batizada de FT-1 VGT e oferecida em três opções, essa versão incorpora um visual ainda mais arrojado, além de detalhes do GT500 do campeonato de Super GT. Enquanto a versão de rua não sai, pelo menos podemos acelerar essa fera nas pistas virtuais.
Texto:Amadeu Castanho Neto
Imagens : Divulgação