Até 2010, a região Centro-Oeste do Brasil ainda não tinha tradição na fabricação de acessórios automotivos. Nesse ano essa situação mudou, com o surgimento da Faaftech, empresa especializada em acessórios eletrônicos automotivos sediada em Goiânia que desde então vem se destacando no nosso mercado.
“A empresa surgiu de uma boa coincidência”, conta Fernando Antonio, Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento e sócio da Faaftech, que nos recebeu na moderna sede da empresa. “Meu irmão trabalhava em uma loja de som e acessórios e eu também venho desse ramo, trabalhava como técnico em eletrônica. Nesse período estavam começando a chegar no Brasil carros premium com comando de volante e surgiu nas lojas a necessidade de trocar o som desses carros, continuando a usar os comandos de volante originais”, continua.
Nessa época, além de trabalhar de dia, Fernando fazia à noite um curso universitário de redes de comunicações, que tinha algumas disciplinas voltadas para a eletrônica e a programação de microcontroladores e protocolos digitais. Nas horas vagas, aproveitava para usar o que aprendia em projetos pessoais. Num deles, ele resolveu copiar controles remotos de televisões e aparelhos de ar condicionado.
Quando mostrou o protótipo para o irmão, ele disse que na loja onde ele trabalhava tinham necessidade de um produto como aquele e que existia uma solução fabricada nos Estados Unidos mas que os instaladores não conseguiam usar aqui por ser muito complexa.
Depois de observar que faltava pouco para que o seu “invento” resolvesse o problema, ele pesquisou e descobriu que o problema estava nos carros, aperfeiçoando o produto e começando a fabricar artesanalmente as primeiras interfaces de volante e testá-las nos carros de clientes.
Isso o obrigava a encarar uma jornada pesada, trabalhando durante o dia como técnico em eletrônica, cursando a faculdade à noite e mais tarde fabricando artesanalmente os dispositivos necessários para atender às encomendas da loja para a qual seu irmão trabalhava, cujo dono é o seu atual sócio, Ricardo. “Às vezes eu ia até as duas horas da manhã”, ele lembra.
Em pouco tempo, ele percebeu que, mesmo com um único cliente, a fabricação dos acessórios já era mais rentável que o seu trabalho durante o dia. Inicialmente, Fernando tentou vender a interface de volante para outras lojas, mas esses clientes pareciam não entender que ele tinha capacidade de fazer aquilo, só viam um jovem chegando para oferecer uma solução. “Faltava credibilidade”, conclui.
Estruturando uma empresa
Em 2010, Ricardo, que até então era seu único cliente, o procurou e fez a proposta de profissionalizar o negócio, criando uma empresa em sociedade, na qual ele cuidaria da parte comercial e Fernando da fabricação. Foi então que Fernando pôde deixar aos poucos seu trabalho de assistência técnica e se dedicar a fabricar e aprimorar os acessórios da nova empresa.
Inicialmente, o foco da empresa foi o mercado de Goiânia, depois passou a abranger o Distrito Federal e em seguida São Paulo. Menos de seis meses depois da criação da Faaftech, a linha de produtos já começou a ser ampliada, em função de necessidades específicas de cada marca e da evolução tecnológica.
A primeira interface de volante era analógica, mas em função do grande número de veículos com tecnologia CAN bus, foi preciso desenvolver uma interface específica, assim como outra que atendesse os produtos da Renault. Rapidamente a linha de interface de volantes já somava seis itens diferentes.
Nessa época começou a aparecer a demanda para interfaces para controle de amplificadores, pois muitos dos clientes que trocavam seus players perdiam o acesso ao amplificador. Só cerca de dois anos depois da criação da Faaftech é que começou a haver demanda para outros acessórios, como as interfaces de vídeo, que agregavam novas funcionalidades aos equipamentos multimídia existentes, sem necessidade de trocá-los.
Essa nova necessidade era muito específica, pois variava conforme a marca do veículo e, como são muitas montadoras, o número de acessórios aumentou exponencialmente (muito). A partir do momento em que foi preciso desenvolver as interfaces de vídeo, foi preciso dar um pulo de tecnologia bastante grande, o que Fernando descreve “como ter de ir do nível 2 para o 10”, demandando muito estudo e pesquisa para dominar todas essas tecnologias.
Trabalho difícil
Ele lembra que uma das dificuldades encontradas foi encontrar carros para pesquisar e testar as novas interfaces. Como Ricardo sempre foi lojista de som e acessórios, isso não havia sido um grande problema no início, mas à medida que foi preciso ampliar o leque de produtos e atender às necessidades de lojas de outros estados, isso passou a ser um problema.
Como aos novos modelos tendem a chegar nos mercados do Sudeste primeiro, apareciam demandas para modelos que ainda eram difíceis de encontrar em Goiás, onde a empresa está baseada.
Muitas vezes foi preciso virar a noite, quando o veículo estava disponível, para poder estudar e dominar novas tecnologias. Hoje isso está um pouco mais fácil, pois já existem mais parceiros que confiam no trabalho da Faaftech e vão ser beneficiados com a existência de um novo produto, então disponibilizam os carros.
Quando é um produto com uma demanda maior, pois há produtos que a fase de desenvolvimento pode exigir quatro, seis meses, de posse do veículo e testando protótipos, chega a ser preciso adquirir o carro. Mesmo com o custo de depreciação do veículo nesse período, nesse tipo de produto de maior demanda o investimento se justifica pois é possível ter um desenvolvimento bem mais detalhado.
Além do Brasil, tecnologia de interfaces de vídeo só é dominada por empresas de poucos países, como as alemãs, as coreanas e as chinesas. São produtos com um nível tecnológico bastante elevado, que demandam essa disponibilidade para avaliar o produto em relação aos carros como um todo.
Atualização contínua
“Começamos com uma dificuldade muito grande, hoje está um pouco mais confortável mas ainda não é o cenário perfeito. Esse é um trabalho contínuo. É muito dinâmico, pois são os produtos cobrem mais de 200 modelos e todo ano esses veículos têm atualizações. Um produto que está em linha hoje, daqui a seis meses pode não funcionar mais se a gente não o mantiver atualizado”, revela Fernando.
Ele explica que não basta desenvolver novas versões dos produtos. É preciso estar preparado para atualizar constantemente aqueles que já estão instalados ou nos estoques dos lojistas: “Algumas vezes o lojista tem o produto em estoque, mas o carro é atualizado. Hoje já temos condições de desenvolver uma nova versão do produto e enviar para ele, para que ele não tenha um produto desatualizado”.
A primeira vez que um acessório da Faaftech foi utilizado numa montadora foi cerca de um ano e meio depois da fundação da empresa, quando as interfaces de volante passaram a ser mais difundidas na região Sudeste. Um cliente que fabricava equipamentos de áudio para montadoras apresentou uma demanda de um equipamento que compatibilizasse um de seus produtos com as necessidades de um veículo de uma montadora.
O projeto foi desenvolvido, aprovado e quando a Faaftech entrava no seu segundo ano de existência, seu produto já entrava na linha de produção de uma montadora. Isso foi muito importante para a Faaftech na época, pois os volumes eram consideráveis e isso ajudou a financiar o crescimento da empresa.
Apesar de ser trabalhoso, também foi importante pois o nível de exigência era muito alto e fez com que nessa época começassem a haver maiores preocupações com qualidade. Evidentemente, essa exigência acabou se refletindo também nos produtos para o aftermarket, com resultados positivos.
Depois dessa primeira experiência com montadoras, ainda como “Tier 2” (fornecedor do fornecedor homologado), o primeiro fornecimento direto para uma montadora demorou um pouco mais e só foi acontecer quando a empresa já tinha quatro anos de atividade. Até agora, a empresa já teve duas montadoras como clientes e atualmente desenvolve projetos para outras duas.
Segundo Fernando, o momento atual apresenta diversas oportunidades de fornecimento para as montadoras como reflexo da postura de elas passarem a oferecer veículos bem mais completos e com mais funcionalidades para os consumidores.
Em função disso, a Faaftech está desenvolvendo diversos projetos, mas, ao mesmo tempo, sendo obrigada a investir para se adequar às necessidades específicas desses clientes, que impactam áreas como engenharia, controle de qualidade e controle de custos, para poder ser competitiva e oferecer soluções com a rapidez demandada pelas montadoras.
Fernando revela que alguns desses produtos são relacionados a câmeras e sensores de estacionamento, além de outros voltados para a segurança. “São produtos que hoje só estão disponíveis em carros topo de linha, mas que nós enxergamos oportunidade de oferecer para modelos nacionais médios e básicos tanto para as montadoras quanto para o mercado de acessórios”.
Em relação ao mercado de pesados, a Faaftech já desenvolveu interfaces de volante para caminhões, já tem grande parte dos seus produtos atuais preparados para operar com 24 V e vê muito potencial no mercado de pesados para o produto de segurança que está desenvolvendo, “já que o motorista de caminhão é o que passa mais tempo ao volante”, como explica Fernando.
Inovando na comunicação
Ele conta que a empresa lida continuamente com a necessidade da marca ser mais conhecida pelos consumidores. Uma das maiores dificuldades enfrentadas é mostrar para o consumidor que a empresa consegue atender as suas necessidades.
“Hoje precisamos vender a ideia, o produto e a marca para o lojista e o instalador – que precisam conhecer os benefícios dos produtos para justificar a indicação para seus clientes e também ter confiança no produto, sabendo que não vai dar problemas e ficar voltando para manutenção – e para o consumidor final. Isso exige o uso de uma linguagem específica para cada um desses públicos” ressalta.
Na sua opinião, o consumidor precisa conhecer melhor o produto e a marca para poder chegar ao ponto de venda sabendo o que quer que seja instalado no seu veículo. Por isso, a Faaftech começou recentemente a fazer para cada novo acessório um vídeo em estilo de reportagem abordando os principais benefícios do produto sob o ponto de vista do consumidor final, “como se fosse um test-drive do produto”. Ao mesmo tempo, os vídeos também permitem que o atendimento de pós-vendas a instaladores e lojistas seja muito mais dinâmico.
Texto: Amadeu Castanho Neto
Imagens: Equipe AM