Berço da indústria automobilística moderna, os Estados Unidos tiveram por décadas um ponto fraco que os incomodava muito. Apesar de serem considerados a “nação sobre rodas” e fabricarem carros feitos para acelerar, os chamados “muscle cars”, não tinham nenhum verdadeiro esportivo famoso.
E o predomínio dos europeus num campo tão importante era algo que tirava o sono dos americanos. Conferir os resultados das grandes corridas e verificar apenas marcas italianas, inglesas ou francesas no topo do pódio era algo que feria o orgulho nacional, ainda mais no início da década de 60, quando a Ferrari conseguiu seis vitórias consecutivas na tradicional 24 Horas de Le Mans.
Por isso, um imenso alívio acompanhou o surgimento, em 1964, do Ford GT40, um carro pensado especificamente para vencer corridas e provar que os americanos sabiam projetar e construir um carro esportivo.
Fabricado inicialmente na Inglaterra usando um motor Ford americano envenenado, o GT40 conseguiu quebrar em 1966 a hegemonia dos italianos em Le Mans. No ano seguinte, já fabricado nos Estados Unidos, ele venceu novamente, resultado que se repetiria ainda mais duas vezes. Além disso, ele foi três vezes campeão mundial de Marcas.
Esses resultados fizeram com que o GT40 se tornasse um modelo icônico para o público norte-americano. Só no Salão de Detroit de 2002 é que a Ford apresentou um GT40 de rua, ainda como show car. Dois anos depois o modelo começava a ser vendido com o nome de Ford GT. A produção durou apenas dois anos.
Cinquenta anos depois do primeiro modelo, uma nova e belíssima versão do Ford GT foi apresentada no recente Salão de Detroit, chamando a atenção não só dos americanos, mas de apaixonados por carros esportivos de todo o mundo.
Remetendo às linhas básicas do GT40, o novo modelo consegue ser muito mais agressivo e atraente que o seu antepassado, adicionando uma infinidade de detalhes que fazem qualquer entusiasta de automóveis esportivos babar, como os faróis com lâmpadas laser, as portas asa-de-gaivota, as “asas” incorporadas à carroceria em frente às rodas traseiras, as inovadoras lanternas traseiras e as saídas de escapamento, só para citar alguns.
Com certeza os designers da Ford fizeram a lição de casa, desenhando um carro que é belo e moderno, qualquer que seja o ângulo que se olhe. Fica difícil decidir se ele é mais bonito de frente, de lado ou de traseira. Na dúvida, marque todas as opções anteriores.
Atraente, equilibrado e funcional, cada detalhe no novo Ford GT tem uma razão de ser. Um bom exemplo são as lanternas traseiras vazadas, cujo vão interno serve como saída para o ar quente gerado pelos intercoolers do motor biturbo.
Por enquanto ainda no estágio de conceito, o Ford GT tem previsão de chegar às ruas e pistas em 2016 já como modelo de produção seriada. Não há estimativa de preço, mas não deve fugir muito da faixa praticada pelos concorrentes nos EUA, onde uma Ferrari 458 sai por US$ 243 mil, um McLaren 650S por US$ 268 mil e um Lamborghini Huracán por US$237 mil.
A aerodinâmica é refinada e influi pesadamente no estilo da carroceria, que tem interessantes recortes e túneis criados para fazer que o ar faça muito mais do que passar pelo carro causando o mínimo de turbulência possível e passe a ter uma função ativa, assegurando a sua estabilidade e manobrabilidade em altas velocidades.
Construído com o emprego maciço de fibra de carbono e alumínio no chassi e na carroceria, o GT promete ser leve, seguro e muito rígido ao mesmo tempo. Por baixo do capô está um motor V6 biturbo Ecoboost de 3,5 litros que desenvolve cerca de 600 cv, dotado de uma caixa de câmbio de sete marchas e embreagem dupla. Essa combinação deve garantir uma relação peso-potência invejável, com reflexos na aceleração e na velocidade final.
As rodas de 20 polegadas do concept apresentado em Detroit ainda eram de alumínio, mas é bastante provável que o modelo de produção tenha rodas super leves em fibra de carbono, ainda que como opcionais, como as que a própria Ford também apresentou em Detroit equipando um Mustang Shelby GT350R. Os freios devem ser Brembo, produzidos em cerâmica composta com carbono.
Para compensar o baixo vão livre do solo, a suspensão ativa foi projetada para poder elevar o carro para passar por lombadas e sair de rampas, bastando o motorista apertar um botão. Em contrapartida, ela também deve reagir à velocidade, rebaixando o carro para melhorar a aerodinâmica e a estabilidade.
Texto: Amadeu Castanho Neto
Imagens: Divulgação