O ano de 2012 foi marcante para a indústria automotiva brasileira. Mais uma vez, registramos um recorde de vendas, com 3,8 milhões de unidades emplacadas, de acordo com a Fenabrave.
Esse resultado foi possível devido a um acordo firmado entre o Governo Federal e montadoras, que redundou na queda de preços de veículos novos, em razão de uma conjugação de redução de imposto, com baixa nas tabelas de venda das fábricas.
A indústria foi especialmente ativa no período, lançando inúmeros novos modelos de automóveis e inaugurando fábricas. Assim, um ano que parecia perdido – em especial pelos reflexos da crise internacional e de uma desaceleração no crescimento da economia interna – acabou registrando um saldo amplamente positivo, que reflete a força de nosso mercado consumidor e abre boas perspectivas.
Agora em 2013, sabemos de antemão que os benefícios concedidos pelo governo no ano passado serão retirados ou modificados, já que os patamares de tributação anteriores serão recompostos gradualmente até o início do segundo semestre.
Também as montadoras têm anunciado alguns reajustes de preços, para recompor seu equilíbrio ante as altas nos custos, especialmente com a renovação e atualização das linhas de produtos.
Mesmo diante desses fatores, que podem significar algum desestímulo em razão da elevação de preços finais ao consumidor, o mercado segue confiante, com a expectativa de crescimento de 3% nos emplacamentos em todo o País, patamar similar às estimativas de avanço do PIB para este ano.
Tal estimativa de crescimento é alimentada por notícias altamente positivas, que revelam investimentos vultosos de montadoras já instaladas no País – e que agora buscam ampliar plantas, instalar novas fábricas e aumentar linhas de produção –, e também de indústrias internacionais que planejam começar a produzir no Brasil já a partir de 2013, em alguns casos.
O interesse dos investidores em fabricar veículos por aqui vem de países como China, Coreia do Sul e Alemanha, por exemplo.
Nos últimos anos, presenciamos uma significativa mudança no perfil do mercado consumidor brasileiro em decorrência do aumento e da melhor distribuição de renda para a população.
Milhões de pessoas ascenderam socialmente e passaram a dispor de maior poder de compra, inclusive para a aquisição de bens duráveis, como é o caso dos automóveis.
Se tomarmos como referência esse cenário interno positivo, podemos compreender os resultados da 14ª Pesquisa Global da Indústria Automotiva, realizada pela KPMG.
De acordo com o levantamento, a expectativa de crescimento expressivo nos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) – e também em outros países emergentes – levou seis de cada dez executivos do setor entrevistados a afirmar que suas empresas ampliarão investimentos no bloco.
Além disso, quase metade dos entrevistados estimou que até 2018 os BRICs serão responsáveis pelas vendas globais de 41% a 50% dos veículos novos.
A China é a escolha prioritária para investimentos das montadoras, seguida pela Índia. Devemos lembrar que ambos os países possuem populações na casa do bilhão de habitantes (mais de 1,34 bilhão, no caso chinês, e de 1,21 bilhão, no indiano), significativo crescimento econômico e proporcional perspectiva de crescimento do mercado automotivo, o que os torna, logicamente, destinos especiais para investimentos.
Um pouco mais atrás nas intenções dos investidores, figuram a Rússia, em terceiro lugar, e o Brasil, na quarta posição entre os BRICs. A primazia russa em relação ao nosso País pode ser explicada por sua proximidade e similaridades com alguns dos mercados produtores de veículos, casos da Europa e Ásia.
Percebemos, ainda, outros países que surgem como fortes concorrentes do Brasil na atratividade dos investimentos internacionais, como o México, que tem se demonstrando um importante hub para a produção de veículos destinados ao mercado internacional.
No Brasil, algumas importantes deficiências infraestruturais e problemas que dão origem ao que conhecemos como “custo Brasil” – a exemplo de nossa elevada carga e complexa estrutura tributária –, acabam desestimulando o impulso investidor de muitos empreendedores internacionais.
Mesmo assim, as potencialidades do mercado interno mantêm o País como destino de vultosos recursos estrangeiros dispostos a se beneficiar da nossa significativa capacidade de consumo.
Diante de uma possível tendência de consolidação entre grandes players do setor automotivo – apurada na pesquisa e também percebida por recentes movimentos no mercado internacional –, podemos assistir a interessantes mudanças que tendem a fortalecer a indústria.
E, assim, apesar de todas as incertezas que afetaram o mercado automotivo mundial nos últimos anos, o Brasil continua e continuará mostrando força e se desenvolvendo nesta área.
Charles Krieck – é sócio-líder da prática de Indústria Automotiva da KPMG no Brasil.
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